quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Senhora Hermann e Hermann Hesse, Contos de Amor

Senhora Hermann e Hermann Hesse, Contos de Amor


Excelentíssima Senhora:

Convidou-me um dia a escrever-lhe. Pensou que seria muito agradável para um jovem com tendências literárias poder enviar cartas a uma bela e prezada dama. Tem razão, é muito agradável.

E além disso, também notou que escrevo muito melhor do que falo. Por conseguinte eis-me a escrever-lhe. É a minha única oportunidade de lhe dar um pequenino prazer, e é isso o que eu muito gostaria de fazer. Porque eu a amo, minha senhora. Permita-me ser mais pormenorizado! É necessário , porque de outro modo não me poderá compreender, e talvez se justifique porque esta será a única carta que lhe escrevo. E basta de introduções!

(…)

Um dia apaixonei-me e, sem esperar, tinha de novo todoas as ligações com a vida, mais fortes e mais multifacetadas do que nunca antes.

Desde então tenho vivido horas e dias maiores e mais deliciosos, mas nunca essas semanas e meses, tão quentes e tão plenos de um sentimento permanentemente torrencial. Não lhe quero contar a história do meu primeiro amor, não tem importância, e as circunstâncias exteriores bem podiam ter sido diferentes. Mas a vida, que então vivi, gostaria de a descrever um pouco, se bem que saiba que não vou conseguir. A busca apressada teve um fim. Encontrei-me de repente no meio do mundo vivo e estava ligado por inúmeros filamentos à terra e às pessoas. Os meus sentidos pareciam estar mudados, mais aguçados e mais vivos. Especialmente os olhos. Via tudo diferente do que via anteriormente. Via cores mais claras e mais variadas, como um artista, e sentia prazer na simples contemplação.

O jardim do meu pai estava no seu esplendor estival. Tinha arbustos em flor e árvores com uma espessa folhagem de Verão contra o céu profundo, a hera subia pelo grande muro de suporte e em frente descansava a montanha com rochedos avermelhados e florestas de abetos azuis-escuros. E eu ficava a ver e sentia-me tocado porque tudo era tão lindo e vivo, colorido e brilhante. Muitas flores baloiçavam nas hastes de uma maneira tão delicada e tinham um aspecto tão comovedoramente fino e íntimo nos seus calicezinhos coloridos que eu as amava e as apreciava como as canções de um poeta. Também muitos sons, a que antes nunca tinha ligado, chamavam-me agora a atenção e diziam-me coisas e ocupavam-me: o som do vento nos pinheiros e na relva, o barulho dos grilos nos campos, o trovejar das tempestades ao longe, o murmurar do rio na represa e as muitas vozes dos pássaros. À tardinha via e ouvia os enxames das moscas na luz dourada do entardecer e escutava as rãs no lago. Mil pequenas coisas passaram a ter importância para mim e eu passei a gostar delas e tocavam-me como se fossem vivências. Por exemplo, quando de manhã regava alguns canteiros para passar o tempo e a terra e as raízes bebiam a água tão ávidas e agradecidas. Ou via uma pequena borboleta azul cambalear como ébria na luz do meio-dia. Ou observava o abrir de um botão de rosa. Ou deixava à tardinha pender a mão do barco para dentro da água e sentia nos dedos o puxar suave e tépido do rio.

Enquanto o sofrimento de um desconsolado primeiro amor me atormentava e e enquanto me moviam uma necessidade incompreendida, uma saudade diária e uma esperança e desilusão, sentia-me a cada instante feliz no meu mais profundo íntimo, apesar da melancolia e do medo do amor. Tudo o que estava à minha volta era-me agradável e tinha sempre qualquer coisa para me dizer, não havia nada morto nem vazio no mundo. Nunca mais perdi isto inteiramente, mas também nunca mais foi assim forte e permanente. E viver isto de novo, assenhorear-me disto e guardar tudo, é essa agora a ideia que tenho da felicidade.

Quer saber mais coisas? Desde essa altura até hoje nunca mais me voltei a apaixonar verdadeiramente. De tudo o que conheci nada me pareceu mais nobre e fogoso e arrebatador do que amar uma mulher. Nem sempre tive relações com senhoras ou com raparigas, também nem sempre amei conscientemente uma delas, mas os meus pensamentos tiveram sempre ligados ao amor e a minha veneração pelo belo foi sempre uma constante adoração de mulher.

Não lhe vou contar histórias de amor. Tive uma vez uma apaixonada, durante alguns meses, e colhi realmente um beijo e um olhar e uma noite de amor quase sem querer, assim de passagem, mas se amei de facto, foi sempre uma infelicidade. E se me recordo bem, o sofrimento de um amor sem esperança, o medo e a timidez e as noites em branco eram muito mais belos do que todos os pequenos casos de felicidade e de sucesso.

Sabe que estou muito apaixonado por si, minha senhora? Conheço-a já há quase um ano, se bem que só tenha estado em sua casa quatro vezes. Quando a vi pela primeira vez, tinha, sobre a blusa de um cinza claro, um broche com um lírio de Florença. Vi-a uma vez na estação a entrar para o rápido de Paris. Tinha um bilhete para Estrasburgo. Nessa altura ainda não me conhecia.

Fui depois com o meu amigo a sua casa, já eu estava apaixonado por si. Só reparou nisso na terceira vez que a visitei com a música de Schubert. Pelo menos foi o que me pareceu. A princípio troçou da minha seriedade, depois das minhas expressões líricas, e à despedida foi simpática e um pouco maternal. E a última vez, depois de me ter facultado a sua morada de Verão, permitiu-me que lhe escrevesse. E foi o que fiz hoje, após longa meditação.

Como é que devo acabar a carta? Digo-lhe que esta minha primeira carta será também a minha última. Aceite as minhas confissões que talvez tenham o seu quê de ridículo, como a única coisa que lhe posso oferecer e com que eu lhe posso mostrar que muito a prezo e a amo. Enquanto penso em si e me confesso a mim próprio que desempenhei muito mal perante si o papel do apaixonado, sinto no entanto um pouco do milagre de que lhe falei. Já é noite, os grilos cantam ainda diante da minha janela no relvado húmido e há muita coisa que está como naquele Verão fantástico. Talvez, penso, possa vir a ter tudo de novo e viver outra vez as mesmas coisas se me mantiver fiel ao sentimento que me envolveu ao escrever-lhe esta carta. Gostaria de renunciar ao que a maior parte dos jovens se segue ao ficar apaixonado e que eu próprio conheci mais do que bem – o jogo semiverdadeiro, semiartificial dos olhares e dos gestos, o tocar dos pés por baixo da mesa e o abuso de um beijo na mão.

Não consigo exprimir plenamente aquilo que quero dizer. Talvez me compreenda apesar disso. Se é como eu a imagino, poderá rir-se do fundo do coração com esta minha escrita confusa, sem me menosprezar por isso. Possivelmente irei também eu um dia rir-me sobre isto, mas hoje não posso e também não quero.

Com o mais profundo respeito,

                                                    B.

                                                 (1906)

Hermann Hesse, Contos de Amor


Crédito : Leitoras SOS

Carta a senhora Berrman


Senhora Berman,



O filme Perfume de Mulher é um dos meus preferidos. Assisti várias vezes.  A personagem de Pacino, o Tenente-Coronel Frank Slade, um cego que teve seus bons momentos, levava uma vida amargurada. Logo ele que fora um homem que viveu no seio do poder. Só quem já viveu próximo ao poder, tendo poder, pode saber o que esta palavrinha significa. Pacino é um ator excepcional e, o Coronel Slade, foi brilhante. Ficou cego, inválido, sentia-se inútil, mas, ainda assim, sabia tudo o que havia de bom na vida, do perfume, às mulheres. Sabia chegar, seduzir, perceber uma mulher negligenciada. Conhecia os melhores lugares, inteligente... Dele invejei muito o saber dançar tango.
Pois bem, tenho algumas coisas da personagem de Pacino. Acostumei-me com vários tipos de mundo, principalmente o dos que têm dinheiro e o dos que pouco possuem ou que nada têm. Vivi fases muito boas e, posso assegurar, fui algo parecido com o Cel. Slade, até mesmo nas loucuras, guardadas as devidas proporções. Podia não acertar o perfume, mas o que importava era que sempre soube conhecer uma mulher pelo cheiro, pelo porte, pelas ancas, pelo charme, pelo remelexo e por tantas coisas mais. As que quis, dentro do meu tempo, consegui.
Outro dia, eu e meu pai conversávamos quando ele me disse, lá embaixo, no play: “Boa menina, consigo vê-la toda nua”. Dei muita risada pois eu sou assim. Ele me disse em tom de confissão, que ao olhar uma mulher ele consegue, como faço, desnudá-la por inteiro. Faço isso. Sei viver com e sem dinheiro e, nestes últimos tempos, desde 5 de janeiro de 2010, minha vida mudou muito e prefiro não explicar as razões.
Pelo que você escrevia eu logo senti que era uma bela mulher, das que “batem onda” e você é tão poderosa que me batia onda através de ondas virtuais. Passei a sentir seu cheiro natural e seu aroma quando perfumada; passei a mergulhar dentro de você e cheguei ao ponto, louco ponto, de ter ciúme de algo que nunca me pertenceu, que nunca vi. A loucura é algo que pode ter um lado maravilhoso, mas tem esses detalhes que maculam a beleza da loucura, tão bem elogiada por Erasmo de Roterdam.
Fiquei não sei quanto tempo a lhe admirar e a me entreter com você em minha doce loucura de homem que conhece o que é o melhor.
Eu não era sequer a sombra de Pacino, do Ten. Cel. Slade. Era apenas um cara cheio de problemas que estava vendo o próprio mundo cair. Mas os meus sonhos refinados, cheios de requinte me faziam sonhar alto demais. E como sonhei, sem qualquer dose de arrependimento.
Não pertenço ao clube dos que podem brincar com um milhão de dólares em uma única noite, mas, se fosse, creia, usaria esse dinheiro para ter o que eu quisesse, fazendo o mesmo que a personagem de Redford fez para conseguir a mulher desejada. Imaginei muitas vezes arrumar algum contrato, alguma coisa dentro do que você faz e você seria levada a um dos melhores hotéis de Paris. Tudo pago. Nos meus planos era assim que nos conheceríamos. Tática e estrategicamente você estava na minha mente, com tudo bolado na cabeça. Iríamos no mesmo vôo, primeira classe.Ficaríamos hospedados no mesmo hotel. E as coisas iriam acontecer de uma forma tão natural, tão normal, e só por mim prevista.
Mas, minha baby, você é muito mais do que eu pensei. E tenho que me desapaixonar, numa boa e eu quero fazer esse desligamento com amor, dentro de mim, guardando-a em minhas fantasias, como o aroma do perfume da sua vida, que nunca tive o prazer de cheirar.
Sabe, baby, você é uma garota pra muito luxo. É mulher pra um cara bancar, correr mundo e nunca deixar de viver a vida com a intensidade que devemos imprimir a ela. Você é uma gata pra o club do milhão de dólares, creia. Olhando você, o cara tem que ser muito comedido, muito reprimido, pra não lhe desejar por inteiro.
 E você me fez sonhar outra vez, me fez viver e reviver coisas que eu nem mais pensava. Me ensinou a “ligar o botão do foda-se” e foi assim que conheci uma clone sua. Não sei se foi armação de suas amigas, ou um presente de Deus, mas o fato é que, além de ter sonhado duas vezes fazendo sexo com você, eu tive uma noite inesquecível, com uma garota que era sua cara.Olhando pra ela era estar com você.  Posso encontrá-la, mas não penso mais nisso. Como devo deixar de pensar em você e em tantas outras coisas e buscar me reformular.
Não penso ficar um velho, sem poder fazer tudo o que desejo. Seria morrer dia a dia, todos os dias, até o dia final.
Você é uma canção que me chegou tarde ao coração, tocando-o, no tempo em que vivo uma crise sem precedente, que mais parece uma tempestade sem fim e você, mesmo assim, foi o meu calmante, o meu amor, a minha mais doce ilusão, tudo no plano virtual.
Porque fui ver seus olhos e mergulhar em você através deles? Seus olhos falam tanto, baby!
 Acho-a uma das figuras mais interessantes da minha vida, sem nunca tê-la visto. Tem um livro, que nunca lí, intitulado “Nunca te vi, sempre te amei”, algo assim.
Nas minhas paixonites, gostei de uma garota casada, lá na Graça, era uma “Cendom” linda. Tivemos flertes, apenas isso. Comprei este livro e mandei, com dedicatória, pra ela. E ponto final.
Já me perdi de amores, com uma mulher das estrelas, igualmente casada, ao ponto de bater na porta da casa dela, disposto a brigar e toma-la do marido, só pra mim, na maior loucura e cara de pau. Ela foi quem me fez cair na real. Ela queria ser amante e eu era um cara casado, com filhos. O marido dela não estava em casa e se estivesse eu poderia não estar mais aqui.
Cometer estas e outras loucuras não dá mais pra mim. Como, também, devo compreender que muitos dos meus sonhos e fantasias eu tenho apenas que guardá-los bem guardados e passar a viver a realidade, principalmente a minha realidade, focando-me em mim mesmo.
Bem, tigresa (gata é muito pouco pra você), cai na real ao amanhecer do dia. Você é realmente fantástica, mais do que estava prevendo nos últimos dias. Uma menina com poderes mágicos... Siga o seu caminho e não mais irei lhe incomodar.
Aceite um beijo meu em seu lindo coração e continue sendo o que é. Aproveite que os anjos, que lhe guardam, querem ver você no merecido lugar.
Com o amor virtual, que transbordou loucuras, e assim, neste estado, foi feliz, deixo-lhe uma desmedida admiração, enquanto sigo sublimando aquilo que já é sublime, por excelência, o amor!
Sinceramente,
L.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Agir com prudência, cardeal Mazarino


Breviário dos Políticos
Cardeal Mazarino
AÇÕES DOS HOMENS EM SOCIEDADE
- Agir com prudência -



Há duas formas de prudência. A primeira consiste em saber medir a própria confiança; mesmo quando te encontrares com amigos em um lugar protegido, mantém-te circunspecto quanto às tuas confidências, porque poucas são as amizades que não te decepcionarão algum dia. A outra forma de prudência se confunde com uma certa elegância que nos impede de dizer espontaneamente a cada um a verdade que lhe cabe, mostrando-lhe os erros, para corrigir-lhe a conduta. Essa atitude, que não está longe da hipocrisia, é muito útil, comportando, além do mais, poucos ou quase nenhum risco.

Não te deixes jamais levar a confiar teus segredos, pois não há ninguém que, com o tempo, não possa tornar-se teu inimigo. Não faças nada em estado de euforia. Cometerias erros ou cairias em armadilhas.

Jamais contes com a boa vontade dos outros, a ponto de esperares que venham a dar uma  interpretação favorável aos teus atos. Não há uma só pessoa no mundo que seja capaz disso. Não escrevas em uma carta nada que não possa ser lido por um terceiro; em compensação, podes inserir elogios a alguém entre cujas mãos tua carta pode vir a cair. Se constatas que alguém procura te arrancar uma informação fingindo já estar a par daquilo que tem verdade quer saber, não o corrijas quando ele se enganar.

Dissimula ou desculpa os vícios de outrem, esconde teus sentimentos ou afeta sentimentos contrários. Na amizade, pensa no ódio; na felicidade, na adversidade. Quando fores vencedor, não devolvas ao inimigo os prisioneiros de alto nível. Se a sorte mudar, o inimigo terá assim boas razões para te poupar. Por outro lado, mantém sempre contatos diplomáticos com os generais inimigos, salvo em caso de necessidade imperiosa.

Não empreendas abertamente algo que não poderás resolver rapidamente, pois as pessoas te condenariam sem esperar tuas explicações. Vivemos em um mundo em que se condenam as virtudes melhor estabelecidas, a fortiori as virtudes mais duvidosas. Se teus parentes ou inferiores te solicitam, faz que ponham por escrito o objeto de sua demanda sob o pretexto de poderes melhor examinar a situação. Mas, tu mesmo, responde só verbalmente.

Se entras em discussões perigosas durante as quais corres o risco de caíres em armadilhas devido a tuas palavras, anuncia previamente que tudo o que disseres não passa de brincadeira. Contradiz vez ou outra teus interlocutores para ver suas reações, e opina o resto do tempo de acordo com eles. Desse modo, se cometeres alguma imprudência, poderás te justificar lembrando que os havia prevenido, não falavas seriamente.

Se és grande amante do jogo, da caça, do amor, ou se tens qualquer outra paixão devoradora, a ela renuncia definitivamente, pois essas paixões te farão cometer numerosas imprudências. Com as crianças, os velhos, a gente rude, todos aqueles que não têm boa memória e sobretudo com os tiranos, age sempre em presença de testemunhas, e pede que as missões que te confiarem sejam consignadas por escrito.

Não dês opinião aos homens impetuosos e violentos. Eles só julgam resultados. Quando puderes ser observado, fala muito pouco. Correrás menos riscos de errar do que se falares rios de palavras. Observa os vícios e as virtudes de cada um; poderás, assim, em caso de necessidade, jogar uns contra os outros para dirigires alguém. Isso deixará um belo arsenal à tua disposição.

É preciso que as janelas abram para o interior e que os caixilhos onde são colocados os vidros sejam pintados de preto, a fim de que não se possa ver se as janelas estão abertas ou fechadas.


Breviário dos Políticos - escrito pelo Cardeal Mazarino é parte integrante do livro 
Conselhos aos Governantes publicado pelo Senado Federal e organizado por Walter Costa 
Porto. Teve a tradução do francês para o português feita por Roberto Aurélio Lustosa da 
Costa.

CARDEAL MAZARINO

Giulio Raimondo Mazzarino, ou Jules Mazarin, nasceu em Pescina, Itália, em 14 de julho de 1602. Aluno dos jesuítas, em Roma, estudou Direito em Alcalá e Madri, na Espanha e, de volta a Roma, em 1624, ingressa no serviço militar do Papa.Nomeado, pela Santa Sé, vice-legado em Avignon, em 1634, e núncio em Paris, em 1635-6, Richelieu o convoca para o serviço de Luís XIII. Em 1639 alcança a cidadania francesa e, por influência de Richelieu, torna-se cardeal. Com a morte de Richelieu, Mazarino o sucede, como primeiro-ministro. Quando morreu em 1661, teria ele, segundo seus biógrafos, concretizado grande parte dos objetivos propostos por Richelieu: a modernização do estado, a restauração do absolutismo, a subjugação da nobreza, a derrota dos Habsburgos e o restabelecimento dos Pirineus e do Reno como as fronteiras naturais da França.Para Roberto Aurélio Lustosa da Costa, tradutor deste Breviário dos Políticos, sucedem-se, no texto, "momentos de melancolia, cinismo e indiferença, quanto a qualquer valor de ordem moral, só importando a busca perseverante e incansável do poder e de sua sustentação e manutenção".


Agir com prudência, cardeal Mazarino


Breviário dos Políticos
Cardeal Mazarino
AÇÕES DOS HOMENS EM SOCIEDADE
- Agir com prudência -



Há duas formas de prudência. A primeira consiste em saber medir a própria confiança; mesmo quando te encontrares com amigos em um lugar protegido, mantém-te circunspecto quanto às tuas confidências, porque poucas são as amizades que não te decepcionarão algum dia. A outra forma de prudência se confunde com uma certa elegância que nos impede de dizer espontaneamente a cada um a verdade que lhe cabe, mostrando-lhe os erros, para corrigir-lhe a conduta. Essa atitude, que não está longe da hipocrisia, é muito útil, comportando, além do mais, poucos ou quase nenhum risco.

Não te deixes jamais levar a confiar teus segredos, pois não há ninguém que, com o tempo, não possa tornar-se teu inimigo. Não faças nada em estado de euforia. Cometerias erros ou cairias em armadilhas.

Jamais contes com a boa vontade dos outros, a ponto de esperares que venham a dar uma  interpretação favorável aos teus atos. Não há uma só pessoa no mundo que seja capaz disso. Não escrevas em uma carta nada que não possa ser lido por um terceiro; em compensação, podes inserir elogios a alguém entre cujas mãos tua carta pode vir a cair. Se constatas que alguém procura te arrancar uma informação fingindo já estar a par daquilo que tem verdade quer saber, não o corrijas quando ele se enganar.

Dissimula ou desculpa os vícios de outrem, esconde teus sentimentos ou afeta sentimentos contrários. Na amizade, pensa no ódio; na felicidade, na adversidade. Quando fores vencedor, não devolvas ao inimigo os prisioneiros de alto nível. Se a sorte mudar, o inimigo terá assim boas razões para te poupar. Por outro lado, mantém sempre contatos diplomáticos com os generais inimigos, salvo em caso de necessidade imperiosa.

Não empreendas abertamente algo que não poderás resolver rapidamente, pois as pessoas te condenariam sem esperar tuas explicações. Vivemos em um mundo em que se condenam as virtudes melhor estabelecidas, a fortiori as virtudes mais duvidosas. Se teus parentes ou inferiores te solicitam, faz que ponham por escrito o objeto de sua demanda sob o pretexto de poderes melhor examinar a situação. Mas, tu mesmo, responde só verbalmente.

Se entras em discussões perigosas durante as quais corres o risco de caíres em armadilhas devido a tuas palavras, anuncia previamente que tudo o que disseres não passa de brincadeira. Contradiz vez ou outra teus interlocutores para ver suas reações, e opina o resto do tempo de acordo com eles. Desse modo, se cometeres alguma imprudência, poderás te justificar lembrando que os havia prevenido, não falavas seriamente.

Se és grande amante do jogo, da caça, do amor, ou se tens qualquer outra paixão devoradora, a ela renuncia definitivamente, pois essas paixões te farão cometer numerosas imprudências. Com as crianças, os velhos, a gente rude, todos aqueles que não têm boa memória e sobretudo com os tiranos, age sempre em presença de testemunhas, e pede que as missões que te confiarem sejam consignadas por escrito.

Não dês opinião aos homens impetuosos e violentos. Eles só julgam resultados. Quando puderes ser observado, fala muito pouco. Correrás menos riscos de errar do que se falares rios de palavras. Observa os vícios e as virtudes de cada um; poderás, assim, em caso de necessidade, jogar uns contra os outros para dirigires alguém. Isso deixará um belo arsenal à tua disposição.

É preciso que as janelas abram para o interior e que os caixilhos onde são colocados os vidros sejam pintados de preto, a fim de que não se possa ver se as janelas estão abertas ou fechadas.


Breviário dos Políticos - escrito pelo Cardeal Mazarino é parte integrante do livro 
Conselhos aos Governantes publicado pelo Senado Federal e organizado por Walter Costa 
Porto. Teve a tradução do francês para o português feita por Roberto Aurélio Lustosa da 
Costa.

CARDEAL MAZARINO

Giulio Raimondo Mazzarino, ou Jules Mazarin, nasceu em Pescina, Itália, em 14 de julho de 1602. Aluno dos jesuítas, em Roma, estudou Direito em Alcalá e Madri, na Espanha e, de volta a Roma, em 1624, ingressa no serviço militar do Papa.Nomeado, pela Santa Sé, vice-legado em Avignon, em 1634, e núncio em Paris, em 1635-6, Richelieu o convoca para o serviço de Luís XIII. Em 1639 alcança a cidadania francesa e, por influência de Richelieu, torna-se cardeal. Com a morte de Richelieu, Mazarino o sucede, como primeiro-ministro. Quando morreu em 1661, teria ele, segundo seus biógrafos, concretizado grande parte dos objetivos propostos por Richelieu: a modernização do estado, a restauração do absolutismo, a subjugação da nobreza, a derrota dos Habsburgos e o restabelecimento dos Pirineus e do Reno como as fronteiras naturais da França.Para Roberto Aurélio Lustosa da Costa, tradutor deste Breviário dos Políticos, sucedem-se, no texto, "momentos de melancolia, cinismo e indiferença, quanto a qualquer valor de ordem moral, só importando a busca perseverante e incansável do poder e de sua sustentação e manutenção".


sábado, 23 de outubro de 2010

O Brasil e o Pré-sal


Pré-sal: um tesouro no fundo do mar do Brasil

23 de Outubro de 2010, por nanda barreto - Sem comentários ainda
Patrimônio de todos os brasileiros, a Petrobras quase entrou para o balaio de privatizações do governo FHC/Serra. Mas hoje ela é mais nossa do que nunca: em setembro deste ano, o Governo Lula aumentou de 40% para 48% a sua participação no capital da empresa. 

A iniciativa marcou o maior processo de capitalização já realizado no Brasil e um dos maiores do mundo, assegurando um montante de cerca de R$ 120,4 bilhões à companhia e colocou a Petrobras no 2º lugar entre as maiores petroleiras do mundo, atrás apenas da americana Exxon Mobil. 

Diferentemente de FHC e Serra, Lula e Dilma jamais cogitaram vender a Petrobras para grupos estrangeiros. Ao contrário, investiram na valorização dos trabalhadores e em novas tecnologias. Um dos principais resultados dessa atuação foi a descoberta, em 2007, do pré-sal.

A camada pré-sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina. O petróleo encontrado está abaixo de uma extensa camada de sal que, segundo geólogos, conservam a qualidade do petróleo.

Mais petróleo, menos pobreza
Com a descoberta do pré-sal, o Governo Lula tratou de propor regras claras para a aplicação dos recursos que virão deste novo patrimônio dos brasileiros. Quando ainda era ministra-chefe da Casa Civil, Dilma desempenhou um papel fundamental na criação de um marco regulatório para o pré-sal.
Foi a partir de uma decisão comandada pela nossa candidata que foi proposta a criação de um Fundo Social do pré-sal. Os recursos desse Fundo serão aplicados em seis áreas prioritárias: combate à pobreza; ciência e tecnologia; cultura; educação; meio ambiente e saúde. 

A deliberação foi de Lula e Dilma, mas a vitória foi de todo o povo brasileiro: estima-se que somente os campos de Tupi, Iara e Parque das Baleias podem abrigar o equivalente a 14 bilhões de barris - mais da metade de todo o petróleo descoberto pelo país nos últimos 50 anos.
Acompanhe os próximos posts sobre o assunto em Dilma na Rede, de onde este texto foi extraído.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Por que apoiamos Dilma?


Por que apoiamos Dilma?

02/07/2010 09:58:00

http://draft.blogger.com/
Guerrilheira, há quem diga, para definir Dilma Rousseff. Negativamente, está claro. A verdade factual é outra, talvez a jovem Dilma tenha pensado em pegar em armas, mas nunca chegou a tanto. A questão também é outra: CartaCapital respeita, louva e admira quem se opôs à ditadura e, portanto, enfrentou riscos vertiginosos, desde a censura e a prisão sem mandado, quando não o sequestro por janízaros à paisana, até a tortura e a morte.

O cidadão e a cidadã que se precipitam naquela definição da candidata de Lula ou não perdem a oportunidade de exibir sua ignorância da história do País, ou têm saudades da ditadura. Quem sabe estivessem na Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade há 46 anos, ou apreciem organizar manifestação similar nos dias de hoje.

De todo modo, não é apenas por causa deste destemido passado de Dilma Rousseff que CartaCapital declara aqui e agora apoio à sua candidatura. Vale acentuar que neste mesmo espaço previmos a escolha do presidente da República ainda antes da sua reeleição, quando José Dirceu saiu da chefia da Casa Civil e a então ministra de Minas e Energia o substituiu.

E aqui, em ocasiões diversas, esclareceuse o porquê da previsão: a competência, a seriedade, a personalidade e a lealdade a Lula daquela que viria a ser candidata. Essas inegáveis qualidades foram ainda mais evidentes na Casa Civil, onde os alcances do titular naturalmente se expandem.

E pesam sobre a decisão de CartaCapital. Em Dilma Rousseff enxergamos sem a necessidade de binóculo a continuidade de um governo vitorioso e do governante mais popular da história do Brasil. Com largos méritos, que em parte transcendem a nítida e decisiva identificação entre o presidente e seu povo. Ninguém como Lula soube valerse das potencialidades gigantescas do País e vulgarizá-las com a retórica mais adequada, sem esquecer um suave toque de senso de humor sempre que as circunstâncias o permitissem.

Sem ter ofendido e perseguido os privilegiados, a despeito dos vaticínios de alguns entre eles, e da mídia praticamente em peso, quanto às consequências de um governo que profetizaram milenarista, Lula deixa a Presidência com o País a atingir índices de crescimento quase chineses e a diminuição do abismo que separa minoria de maioria. Dono de uma política exterior de todo independente e de um prestígio internacional sem precedentes. Neste final de mandato, vinga o talento de um estrategista político finíssimo. E a eleição caminha para o plebiscito que a oposição se achava em condições de evitar.

Escolha certa, precisa, calculada, a de Lula ao ungir Dilma e ao propor o confronto com o governo tucano que o precedeu e do qual José Serra se torna, queira ou não, o herdeiro. Carregar o PSDB é arrastar uma bola de ferro amarrada ao tornozelo, coisa de presidiário. Aí estão os tucanos, novos intérpretes do pensamento udenista. Seria ofender a inteligência e as evidências sustentar que o ex-governador paulista partilha daquelas ideias. Não se livra, porém, da condição de tucano e como tal teria de atuar. Enredado na trama espessa da herança, e da imposição do plebiscito, vive um momento de confusão, instável entre formas díspares e até conflitantes ao conduzir a campanha, de sorte a cometer erros grosseiros e a comprometer sua fama de “preparado”, como insiste em afirmar seu candidato a vice, Índio da Costa. E não é que sonhavam com Aécio...

Reconhecemos em Dilma Rousseff a candidatura mais qualificada e entendemos como injunção deste momento, em que oficialmente o confronto se abre, a clara definição da nossa preferência. Nada inventamos: é da praxe da mídia mais desenvolvida do mundo tomar partido na ocasião certa, sem implicar postura ideológica ou partidária. Nunca deixamos, dentro da nossa visão, de apontar as falhas do governo Lula. Na política ambiental. Na política econômica, no que diz respeito, entre outros aspectos, aos juros manobrados pelo Banco Central. Na política social, que poderia ter sido bem mais ousada.

E fomos muito críticos quando se fez passivamente a vontade do ministro Nelson Jobim e do então presidente do STF Gilmar Mendes, ao exonerar o diretor da Abin, Paulo Lacerda, demitido por ter ousado apoiar a Operação Satiagraha, ao que tudo indica já enterrada, a esta altura, a favor do banqueiro Daniel Dantas. E quando o mesmo Jobim se arvorou a portavoz dos derradeiros saudosistas da ditadura e ganhou o beneplácito para confirmar a validade de uma Lei da Anistia que desrespeita os Direitos Humanos. E quando o então ministro da Justiça Tarso Genro aceitou a peroração de um grupelho de fanáticos do Apocalipse carentes de conhecimento histórico e deu início a um affair internacional desnecessário e amalucado, como o caso Battisti. Hoje apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff com a mesma disposição com que o fizemos em 2002 e em 2006 a favor de Lula. Apesar das críticas ao governo que não hesitamos em formular desde então, não nos arrependemos por essas escolhas. Temos certeza de que não nos arrependeremos agora.

domingo, 27 de junho de 2010

BRASIL LIVRE um Blog que Recomendo



Brasil Livre é um blog novo, voltado para temas políticos, embora possa ultrapassar seus próprios limites que é o de ser um tributo às liberdades democráticas conquistadas com sangue, suor e lágrimas por todos aqueles que acreditaram em um Brasil Livre. Tem como lema a liberdade. Já passei por lá e verifiquei que é um blog com bom conteúdo e vale à pena ser visitado, lido e comentado. 

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Leitor e o processo político


Nós eleitores e o processo político

Maressa Vieira,Engenheira e Professora
Os brasileiros passam a conhecer a existência de alguns partidos políticos somente agora que se aproxima o período eleitoral. São tantas siglas e o povo assiste, neste momento, uma corrida motivada por alianças que fortalecem um ou outro partido mais tradicional. O que se evidencia é que, embora tenham origem e objetivos muito distintos, nesta época o que se manifesta é a prioridade nacional e aqui apresenta-se o sentimento comum de apoio a um nome principal para exercer a presidência do país.
Certo que o sistema democrático vigente permite a liberdade e a criação de partidos, mas o número sugere exagero, mesmo porque muitos servem apenas para resguardar um direito institituído por ocasião da criação do partido, ou seja, assegurar uma verba partidária, o dito Fundo Partidário, oriunda dos cofres públicos, que é repassada anualmente às agremiações com registro definitivo, o que implica, dinheiro do povo e que devia ser aplicado em benefício deste.
Independentemente de tal premissa é irrelevante lembrar disso nos tempos de eleição porque as alianças formadas apagam rapidamente tais partidos; mas é fato que há pouca reprentatividade dos mesmos, uma vez que não conseguiram mostrar um trabalho que confirmasse ou caracterizasse força política.
Certo é que o maior número de partidos não encarados como solução ou benefícios concretos deixa o povo descontente e se espera que surjam ou que se reforcem partidos que já conquistaram espaço significativo e que tenham empenho em influenciar ou transformar o Brasil, quando imbuído da responsabilidade maior, que é administrar com desprendimento pessoal e disponibilidade total.
Oportuno lembrar que novos partidos, novos modelos, novas pessoas e novas propostas poderiam direcionar o futuro do país, conquistando o eleitorado e interferindo na construção de um novo tempo; o que é lamentável é a criação sem uma meta que pense no Brasil, na incorporação de uma política voltada a gerar o desenvolvimento porque há muita riqueza nessa terra que poderia ser explorada e promover melhoria na qualidade de vida dos brasileiros em geral, superando e erradicando de vez a pobreza no nosso país.
A formação de um novo governo, a aplicação de planos importantes, orçamentos precisos e simplificados, evitando desperdícios e implementação de uma política voltada a superar dificuldades maiores, justificando a atenção a classe menos favorecida, acelerando a desburocratização e facilitando o desenvolvimento.
A população brasileira precisa adquirir o hábito de intervir no processo político ativamente, pois é de direito e de dever participar do processo democrático não apenas com a obrigatoriedade do voto. É preciso acompanhar o desempenho dos representantes e a aprendizagem da democracia se dá assim mesmo, na busca de entender como funciona o sistema de governo, procurando valorizar o país, opinar para que continuemos nessa caminhada de progresso, participando ativa e coletivamente da consolidação de um sociedade democrática.10.06.2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Entrevista do cientista político Prof. Luís Moniz Bandeira - La Onda


Moniz Bandeira
Entrevista concedida ao Jornal








El papel de Brasil en

lograr el acuerdo con Irán:

análisis del cientista político

Prof. Luís Moniz Bandeira
El lunes 17 de mayo un hecho casi sin precedentes sacudía las cancillerías y los gobiernos de todo el mundo: una de las potencias emergentes lograba modificar el curso de uno de los conflictos internacionales más peligrosos de la actualidad. Brasil con su presidente a la cabeza, Luis Inacio Lula Da Silva, lograba que Irán accediera a un acuerdo por el que este enviara la mayoría de su uranio enriquecido a Turquía
a cambio de combustible nuclear.

El ministro francés de Relaciones Exteriores, Bernard Kouchner, rindió homenaje a Brasil y Turquía por el acuerdo con Irán, pero el gobierno de los EE.UU. se mostró contradictorio, presentando junto al Grupo 5+1 un proyecto de resolución en la ONU que prevé nuevas sanciones contra Teherán. La ONDA digital entrevistó al cientista político brasileño Prof. Luís Moniz Bandeira, especialista en Estados Unidos y en la política exterior de Brasil,  sobre los distintos elementos que están en juego tras el acuerdo con Irán.

- ¿Que significado tiene el acuerdo entre Irán, Brasil y Turquía para la situación internacional? ¿Este acuerdo puede llegar ha evitar un nuevo conflicto bélico, como el de Irak?
– Creo que la situación de Estados Unidos es muy difícil, porque no les interesa ningún tipo de acuerdo, aunque el presidente Barack Obama diga que prefiere la vía diplomática, por medio de negociaciones con Irán. Pero me parece muy improbable un conflicto bélico. También es muy poco probable que va a emprender cualquier acción militar.  La escuadra de Estados Unidos, en el Golfo Pérsico, aunque está armada con misiles nucleares, no está en condiciones de usarlos. Bombardear las usinas atómicas que dicen existir en Irán es muy difícil. Si existen, están dentro de las montañas, en las cavernas, y los satélites no pueden ubicarlas. Además, trabar una guerra en Irán, sería otro desastre y mayor aún que en Irak y Afganistán. Los Estados Unidos tienen tropas en todas las regiones del mundo, pero sus Fuerzas Armadas están agotadas y enfrentan dificultades para reclutamiento de soldados. Mientras tanto los problemas - indisciplina, deserciones, ausencias sin justificativas - aumentan en las tropas que están en Irak y Afganistán, cuyo moral está cada vez más bajo.

Por otra parte, los recursos financieros de Estados Unidos, con una deuda pública que no tienen como pagar, están agotados.  La crisis en el Medio Oriente se agravaría al extremo. El precio del petróleo se alzaría de tal forma que los Estados Unidos y Europa no lo podrían soportar. Las consecuencias económicas serían fatales para el llamado Occidente, ya hundido en una profunda crisis financiera, peor tal vez que desencadenada por el colapso de la Bolsa de Valores de Estados Unidos, en 1929.

Igualmente no creo que a Israel le interese llegar a un conflicto armado con Irán. La enorme asimetría demográfica y geográfica puede ser decisiva. Irán, como he dicho, tiene más de 66 millones de habitantes y un territorio con más de 1,5 millón de kilómetros cuadrados. No está desarmado, como Irak. Irán posee armamentos, misiles que, aunque sin artefactos nucleares, pueden devastar a Israel y las bases de Estados Unidos en Irak y Afganistán, donde se encuentran casi 250 mil soldados, afuera los enviados por otros países de la OTAN. Por su vez, Israel, es militarmente mucho más fuerte que Irán, porque tiene armas nucleares, pero es un país muy pequeño,  con cerca de 7,2 millones, que ocupan un área de alrededor de 22.000 kilómetros cuadrados. Una franja de tierra que algunos cohetes con bombas, no necesariamente nucleares, pueden borrar del mapa. Esos datos son muy importantes para la evaluación de lo que puede ocurrir en el Oriente Medio.

Poco después Estados Unidos celebró el paso positivo alcanzado, pero indicó que mantiene sus planes de sanciones sobre Irán. ¿Porqué EE.UU. insiste en la vía de confrontación total para solucionar este conflicto con Irán?
- El problema es mucho más complejo de lo que se imagina. Es económico,  político y geopolítico. La cuestión del enriquecimiento del uranio es un simple pretexto. El objetivo de los Estados Unidos y de las potencias que los apoyan es estrangular económicamente a Irán y derrocar al presidente MahmoudAhmadinejad, por medio de duras sanciones, para someter el país a su dominio.

El  desarrollo de Irán, como potencia económica y política en el Medio Oriente, no les conviene, como no le conviene a Israel y, tampoco, a Arabia Saudita. Y ahí el factor religioso se torna también político, incluso para los Estados Unidos, que derrocaron a Saddam Hussein, un sunita, y posibilitaron la asunción al poder de los chiítas, de la misma corriente islámica que los gobernantes de Irán y que son la mayoría de la población en Irak.

El temor en los Estados Unidos, el cual comparte con Arabia Saudita, es que Irak, económicamente fragilizado por la guerra y bajo el dominio del los chiítas, quede en la órbita de Irán, tras la retirada de sus tropas.  Eso parece inevitable. E Irán e Irak juntos, además de controlar las dos grandes reservas de petróleo del Golfo Pérsico, serían una enorme fuerza chiíta que podría influir sobre las minorías chiítas existentes en el Líbano y en otros países árabes. Los chiítas y sunitas son dos ramas del islamismo, rivales e inconciliables. 

Esas son algunas de las razones por las cuales los Estados Unidos insisten en las sanciones. Pero, como dije, no es viable una guerra. La amenaza que Irán podría representar si enriqueciera uranio es retórica. Hay una guerra psicológica que los Estados Unidos promueven, para mantener un clima de temor y así justificar la producción de armamentos por parte de su industria bélica. Y esa industria bélica factura millones de millones de dólares, vendiendo al Pentágono, con sobreprecio e indudablemente pagando voluminosas comisiones a los intermediarios del negocio, políticos, militares y miembros del gobierno y del Congreso, que hacen o aprueban  el presupuesto del Pentágono, anualmente, para la encomienda y compra de armamentos.

El gobierno de Estados Unidos así sustenta la industria bélica, de la cual depende hace muchos años la economía del país.  Y ahí los intereses de las grandes corporaciones se confunden con los intereses de los militares y políticos, que ganan comisiones, propinas y contribuciones para la campaña electoral, y determinan las políticas del gobierno, ya sea si el presidente es del Partido Republicano o del Partido Demócrata. La corrupción es intrínseca al complejo industrial-militar, contra el cual el presidente Dwight  Eisenhower había advertido, cuando dejó el gobierno en enero de 1961.

- De acuerdo a la política norteamericana, ahora Obama tiene dos problemas: Irán y el creciente papel de Brasil en el ámbito internacional. ¿Este papel de Brasil puede traerle una confrontación directa con los EEUU?
– No es la primera vez que la política exterior de Brasil se confronta directamente con los intereses de Estados Unidos. En la primera mitad de los años 1960, Brasil se opuso a las sanciones contra Cuba, en la OEA, donde impidió que los Estados Unidos consiguieran aprobar la intervención armada para derrocar al régimen revolucionario de Fidel Castro. Durante al régimen, después del golpe de 1964, los gobiernos militares tuvieron varias divergencias comerciales y políticas con los Estados Unidos. La confrontación fue muy profunda, cuando el presidente Ernesto Geisel (1974-1989) reconoció a los gobiernos revolucionarios de Angola y Mozambique, firmó el Acuerdo Nuclear con Alemania (1976) y denunció el Acuerdo Militar con los Estados Unidos (1977). Y es bueno no olvidar que los esfuerzos de los Estados Unidos para imponer el proyecto de implantación del ALCA fracasaron debido, sobre todo, a la oposición de Brasil, que contó con el respaldo de Argentina.

Esas contradicciones son normales, una consecuencia de la emergencia de Brasil como potencia industrial y que se puede considerar, actualmente, como una potencia política con influencia global. Pero los dos países – Estados Unidos y Brasil - tienen que mantener buenas relaciones, relaciones maduras, a pesar de las contradicciones y divergencias, y cooperando en los puntos donde sus intereses coinciden.

- En los EE.UU. parece haber dos enfoques distintos sobre este tema, el del presidente Obama que dice que es “un paso positivo” y el de la secretaria Hillary Clinton, quien se mostró escéptica sobre  la gestión de Lula. ¿Qué esta pasando en los EE.UU. con relación a este tema?
– El presidente Barack Obama no tiene el control del Estado americano, ni siquiera de su gobierno, donde hay muchas discrepancias y contradicciones. Hasta hoy él no cambió esencialmente la política exterior del presidente George W. Bush. Intensificó el envío de tropas hacia Afganistán y, a un año de su administración, ya murieron más soldados americanos - cerca de 1.000 - más que en los ochos años de guerra, desde que empezó en 2001. 

Dentro de su gobierno, hay corrientes más moderadas, otras belicistas y éstas, de cierto modo, predominan. Tan cierto es esto que el presidente Barack Obama tuvo que aceptar el golpe de Estado en Honduras. Su tendencia personal es distinta de la Hillary Clinton, aunque pertenezcan al mismo Partido Demócrata. Ella tiene otros intereses electorales, quiere agradar al lobby judaico, cuyo poder es inmenso, y anunció que tenía un proyecto de sanciones listo para lograr un efecto de propaganda y mermar el impacto del éxito diplomático de Brasil y Turquía, que dejó a los Estados Unidos en una situación muy embarazosa, muy difícil.

Lo que Brasil y Turquía consiguieron fue que Irán aceptara, con una pequeña modificación, la propuesta hecha por los Estados Unidos hace ocho meses. Fue el resultado de un notable trabajo diplomático. Pero ahora Hillary Clinton alega que Irán no inspira confianza. ¿Y los Estados Unidos? ¿Tienen alguna credibilidad?  ¿Inspiran confianza? Ninguna. Es bueno recordar en momentos como este, las informaciones falsas para justificar la invasión de Irak.

El presidente George W. Bush y Collin Powel, su secretario de Estado, decían que Saddam Hussein poseía armas de destrucción masiva. Y estas no existían. El alegato fue un simple pretexto para la invasión y derrocar a Saddam Hussein. Los Estados Unidos solamente hicieron la guerra porque sabían que Irak estaba desarmado. ¿Y ahora quién puede creer en lo que dicen sobre Irán? La realidad, y eso la historia lo comprueba, es que son los Estados Unidos que no tienen credibilidad y no inspiran confianza. Hasta el día de hoy, no cumplieron con el Tratado de No-Proliferación Nuclear (TNP), manteniendo sus arsenales atómicos.

- Algunos analistas dicen que Brasil, con estas gestiones ante Irán, quiere quitarle protagonismo al presidente de Venezuela Hugo Chávez que mantiene una buena relación con el presidente iraní. ¿En qué medida la gestión del presidente Lula, tiene que ver con la relación Venezuela Irán?.
– Es una estupidez lo que dicen tales analistas. Son ignorantes. El protagonismo del presidente Hugo Chávez no le molesta a Brasil,  que desarrolla una política externa según sus intereses nacionales. Desde por lo menos 1986, domina el ciclo tecnológico completo del enriquecimiento del uranio, por medio de la ultra-centrifugación, una tecnología que pocos países dominan. Eso lo permitiría producir la bomba atómica, si quisiera.  La planta de las Industrias Nucleares deBrasil (INB) funciona en Resende, al sur del Estado de Río de Janeiro. Y con  la  consolidación de la producción de uranio enriquecido, Brasil ahorrará anualmente cerca de US$ 100 millones con las importaciones para abastecer las usinas atómicas Angra 1 y 2. Ese gasto terminará antes de 2014, cuando la INB alcance la capacidad de atender la demanda de todo el parque nuclear de Brasil, incluyendo Angra 3 y las otras que serán construidas hasta 2030.

Hace pocos años, ya bajo el gobierno del presidente Lula da Silva, Brasil resistió a los intentos de Estados Unidos para que se sometiera a sus instalaciones nucleares e inspecciones amplias con intrusión de la AIEA, sin aviso previo etc. El hecho es que Brasil ha desarrollado ultra-centrífugas, que hacen cerca de 20.000 rotaciones por segundo para el enriquecimiento de uranio. Estas son consideradas las mas modernas que existen en el mundo. Y a los Estados Unidos y a las otras potencias nucleares, que no permiten inspecciones en sus plantas nucleares, les interesa conocer los secretos de las ultra-centrífugas de Brasil. El objetivo es espionaje. Brasil no permitió este tipo de inspecciones y alcanzó un acuerdo con la AIEA. Ahora los Estados Unidos y las otras potencias presionan para que Brasil firme un Protocolo Adicional al TNP para abrir las puertas de su planta nuclear y permitir amplias inspecciones por la AIEA.

El propósito es el mismo: espionaje. Brasil no firmará ese Protocolo Adicional al TNP. Es contrario a sus intereses nacionales. Y ahí también está confrontando con los Estados Unidos. Pero, la diferencia con otros países, es que Brasil desarrolla su política exterior, con actitudes y acciones concretas y no con retórica agresiva, radical. No la desarrolla mirando a otro país y mucho menos disputa liderazgo con Venezuela, cuya integración al Mercosur es un objetivo estratégico de su política exterior.  Por otro lado, Venezuela, ahora, no es miembro rotativo del Consejo de  Seguridad de la ONU. Y, aunque lo fuera, no tiene el suficiente peso económico y político internacional para intermediar en un conflicto como el que ocurre entre los Estados Unidos e Irán. Y, aunque tenga buenas relaciones con el presidente Mahmoud Ahmadinejad, el presidente Hugo Chávez no tiene influencia y condiciones de diálogo con ninguna potencia europea, mucho menos con los Estados Unidos. Varias de sus iniciativas erráticas, explotadas por los medios de comunicación, le crearon un enorme rechazo en el exterior. Incluso los que lo apoyan también le hacen severas críticas en este sentido. Su protagonismo, hoy,  está limitado a los sectores más radicales de la izquierda en América Latina.
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