quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Senhora Hermann e Hermann Hesse, Contos de Amor

Senhora Hermann e Hermann Hesse, Contos de Amor


Excelentíssima Senhora:

Convidou-me um dia a escrever-lhe. Pensou que seria muito agradável para um jovem com tendências literárias poder enviar cartas a uma bela e prezada dama. Tem razão, é muito agradável.

E além disso, também notou que escrevo muito melhor do que falo. Por conseguinte eis-me a escrever-lhe. É a minha única oportunidade de lhe dar um pequenino prazer, e é isso o que eu muito gostaria de fazer. Porque eu a amo, minha senhora. Permita-me ser mais pormenorizado! É necessário , porque de outro modo não me poderá compreender, e talvez se justifique porque esta será a única carta que lhe escrevo. E basta de introduções!

(…)

Um dia apaixonei-me e, sem esperar, tinha de novo todoas as ligações com a vida, mais fortes e mais multifacetadas do que nunca antes.

Desde então tenho vivido horas e dias maiores e mais deliciosos, mas nunca essas semanas e meses, tão quentes e tão plenos de um sentimento permanentemente torrencial. Não lhe quero contar a história do meu primeiro amor, não tem importância, e as circunstâncias exteriores bem podiam ter sido diferentes. Mas a vida, que então vivi, gostaria de a descrever um pouco, se bem que saiba que não vou conseguir. A busca apressada teve um fim. Encontrei-me de repente no meio do mundo vivo e estava ligado por inúmeros filamentos à terra e às pessoas. Os meus sentidos pareciam estar mudados, mais aguçados e mais vivos. Especialmente os olhos. Via tudo diferente do que via anteriormente. Via cores mais claras e mais variadas, como um artista, e sentia prazer na simples contemplação.

O jardim do meu pai estava no seu esplendor estival. Tinha arbustos em flor e árvores com uma espessa folhagem de Verão contra o céu profundo, a hera subia pelo grande muro de suporte e em frente descansava a montanha com rochedos avermelhados e florestas de abetos azuis-escuros. E eu ficava a ver e sentia-me tocado porque tudo era tão lindo e vivo, colorido e brilhante. Muitas flores baloiçavam nas hastes de uma maneira tão delicada e tinham um aspecto tão comovedoramente fino e íntimo nos seus calicezinhos coloridos que eu as amava e as apreciava como as canções de um poeta. Também muitos sons, a que antes nunca tinha ligado, chamavam-me agora a atenção e diziam-me coisas e ocupavam-me: o som do vento nos pinheiros e na relva, o barulho dos grilos nos campos, o trovejar das tempestades ao longe, o murmurar do rio na represa e as muitas vozes dos pássaros. À tardinha via e ouvia os enxames das moscas na luz dourada do entardecer e escutava as rãs no lago. Mil pequenas coisas passaram a ter importância para mim e eu passei a gostar delas e tocavam-me como se fossem vivências. Por exemplo, quando de manhã regava alguns canteiros para passar o tempo e a terra e as raízes bebiam a água tão ávidas e agradecidas. Ou via uma pequena borboleta azul cambalear como ébria na luz do meio-dia. Ou observava o abrir de um botão de rosa. Ou deixava à tardinha pender a mão do barco para dentro da água e sentia nos dedos o puxar suave e tépido do rio.

Enquanto o sofrimento de um desconsolado primeiro amor me atormentava e e enquanto me moviam uma necessidade incompreendida, uma saudade diária e uma esperança e desilusão, sentia-me a cada instante feliz no meu mais profundo íntimo, apesar da melancolia e do medo do amor. Tudo o que estava à minha volta era-me agradável e tinha sempre qualquer coisa para me dizer, não havia nada morto nem vazio no mundo. Nunca mais perdi isto inteiramente, mas também nunca mais foi assim forte e permanente. E viver isto de novo, assenhorear-me disto e guardar tudo, é essa agora a ideia que tenho da felicidade.

Quer saber mais coisas? Desde essa altura até hoje nunca mais me voltei a apaixonar verdadeiramente. De tudo o que conheci nada me pareceu mais nobre e fogoso e arrebatador do que amar uma mulher. Nem sempre tive relações com senhoras ou com raparigas, também nem sempre amei conscientemente uma delas, mas os meus pensamentos tiveram sempre ligados ao amor e a minha veneração pelo belo foi sempre uma constante adoração de mulher.

Não lhe vou contar histórias de amor. Tive uma vez uma apaixonada, durante alguns meses, e colhi realmente um beijo e um olhar e uma noite de amor quase sem querer, assim de passagem, mas se amei de facto, foi sempre uma infelicidade. E se me recordo bem, o sofrimento de um amor sem esperança, o medo e a timidez e as noites em branco eram muito mais belos do que todos os pequenos casos de felicidade e de sucesso.

Sabe que estou muito apaixonado por si, minha senhora? Conheço-a já há quase um ano, se bem que só tenha estado em sua casa quatro vezes. Quando a vi pela primeira vez, tinha, sobre a blusa de um cinza claro, um broche com um lírio de Florença. Vi-a uma vez na estação a entrar para o rápido de Paris. Tinha um bilhete para Estrasburgo. Nessa altura ainda não me conhecia.

Fui depois com o meu amigo a sua casa, já eu estava apaixonado por si. Só reparou nisso na terceira vez que a visitei com a música de Schubert. Pelo menos foi o que me pareceu. A princípio troçou da minha seriedade, depois das minhas expressões líricas, e à despedida foi simpática e um pouco maternal. E a última vez, depois de me ter facultado a sua morada de Verão, permitiu-me que lhe escrevesse. E foi o que fiz hoje, após longa meditação.

Como é que devo acabar a carta? Digo-lhe que esta minha primeira carta será também a minha última. Aceite as minhas confissões que talvez tenham o seu quê de ridículo, como a única coisa que lhe posso oferecer e com que eu lhe posso mostrar que muito a prezo e a amo. Enquanto penso em si e me confesso a mim próprio que desempenhei muito mal perante si o papel do apaixonado, sinto no entanto um pouco do milagre de que lhe falei. Já é noite, os grilos cantam ainda diante da minha janela no relvado húmido e há muita coisa que está como naquele Verão fantástico. Talvez, penso, possa vir a ter tudo de novo e viver outra vez as mesmas coisas se me mantiver fiel ao sentimento que me envolveu ao escrever-lhe esta carta. Gostaria de renunciar ao que a maior parte dos jovens se segue ao ficar apaixonado e que eu próprio conheci mais do que bem – o jogo semiverdadeiro, semiartificial dos olhares e dos gestos, o tocar dos pés por baixo da mesa e o abuso de um beijo na mão.

Não consigo exprimir plenamente aquilo que quero dizer. Talvez me compreenda apesar disso. Se é como eu a imagino, poderá rir-se do fundo do coração com esta minha escrita confusa, sem me menosprezar por isso. Possivelmente irei também eu um dia rir-me sobre isto, mas hoje não posso e também não quero.

Com o mais profundo respeito,

                                                    B.

                                                 (1906)

Hermann Hesse, Contos de Amor


Crédito : Leitoras SOS

Carta a senhora Berrman


Senhora Berman,



O filme Perfume de Mulher é um dos meus preferidos. Assisti várias vezes.  A personagem de Pacino, o Tenente-Coronel Frank Slade, um cego que teve seus bons momentos, levava uma vida amargurada. Logo ele que fora um homem que viveu no seio do poder. Só quem já viveu próximo ao poder, tendo poder, pode saber o que esta palavrinha significa. Pacino é um ator excepcional e, o Coronel Slade, foi brilhante. Ficou cego, inválido, sentia-se inútil, mas, ainda assim, sabia tudo o que havia de bom na vida, do perfume, às mulheres. Sabia chegar, seduzir, perceber uma mulher negligenciada. Conhecia os melhores lugares, inteligente... Dele invejei muito o saber dançar tango.
Pois bem, tenho algumas coisas da personagem de Pacino. Acostumei-me com vários tipos de mundo, principalmente o dos que têm dinheiro e o dos que pouco possuem ou que nada têm. Vivi fases muito boas e, posso assegurar, fui algo parecido com o Cel. Slade, até mesmo nas loucuras, guardadas as devidas proporções. Podia não acertar o perfume, mas o que importava era que sempre soube conhecer uma mulher pelo cheiro, pelo porte, pelas ancas, pelo charme, pelo remelexo e por tantas coisas mais. As que quis, dentro do meu tempo, consegui.
Outro dia, eu e meu pai conversávamos quando ele me disse, lá embaixo, no play: “Boa menina, consigo vê-la toda nua”. Dei muita risada pois eu sou assim. Ele me disse em tom de confissão, que ao olhar uma mulher ele consegue, como faço, desnudá-la por inteiro. Faço isso. Sei viver com e sem dinheiro e, nestes últimos tempos, desde 5 de janeiro de 2010, minha vida mudou muito e prefiro não explicar as razões.
Pelo que você escrevia eu logo senti que era uma bela mulher, das que “batem onda” e você é tão poderosa que me batia onda através de ondas virtuais. Passei a sentir seu cheiro natural e seu aroma quando perfumada; passei a mergulhar dentro de você e cheguei ao ponto, louco ponto, de ter ciúme de algo que nunca me pertenceu, que nunca vi. A loucura é algo que pode ter um lado maravilhoso, mas tem esses detalhes que maculam a beleza da loucura, tão bem elogiada por Erasmo de Roterdam.
Fiquei não sei quanto tempo a lhe admirar e a me entreter com você em minha doce loucura de homem que conhece o que é o melhor.
Eu não era sequer a sombra de Pacino, do Ten. Cel. Slade. Era apenas um cara cheio de problemas que estava vendo o próprio mundo cair. Mas os meus sonhos refinados, cheios de requinte me faziam sonhar alto demais. E como sonhei, sem qualquer dose de arrependimento.
Não pertenço ao clube dos que podem brincar com um milhão de dólares em uma única noite, mas, se fosse, creia, usaria esse dinheiro para ter o que eu quisesse, fazendo o mesmo que a personagem de Redford fez para conseguir a mulher desejada. Imaginei muitas vezes arrumar algum contrato, alguma coisa dentro do que você faz e você seria levada a um dos melhores hotéis de Paris. Tudo pago. Nos meus planos era assim que nos conheceríamos. Tática e estrategicamente você estava na minha mente, com tudo bolado na cabeça. Iríamos no mesmo vôo, primeira classe.Ficaríamos hospedados no mesmo hotel. E as coisas iriam acontecer de uma forma tão natural, tão normal, e só por mim prevista.
Mas, minha baby, você é muito mais do que eu pensei. E tenho que me desapaixonar, numa boa e eu quero fazer esse desligamento com amor, dentro de mim, guardando-a em minhas fantasias, como o aroma do perfume da sua vida, que nunca tive o prazer de cheirar.
Sabe, baby, você é uma garota pra muito luxo. É mulher pra um cara bancar, correr mundo e nunca deixar de viver a vida com a intensidade que devemos imprimir a ela. Você é uma gata pra o club do milhão de dólares, creia. Olhando você, o cara tem que ser muito comedido, muito reprimido, pra não lhe desejar por inteiro.
 E você me fez sonhar outra vez, me fez viver e reviver coisas que eu nem mais pensava. Me ensinou a “ligar o botão do foda-se” e foi assim que conheci uma clone sua. Não sei se foi armação de suas amigas, ou um presente de Deus, mas o fato é que, além de ter sonhado duas vezes fazendo sexo com você, eu tive uma noite inesquecível, com uma garota que era sua cara.Olhando pra ela era estar com você.  Posso encontrá-la, mas não penso mais nisso. Como devo deixar de pensar em você e em tantas outras coisas e buscar me reformular.
Não penso ficar um velho, sem poder fazer tudo o que desejo. Seria morrer dia a dia, todos os dias, até o dia final.
Você é uma canção que me chegou tarde ao coração, tocando-o, no tempo em que vivo uma crise sem precedente, que mais parece uma tempestade sem fim e você, mesmo assim, foi o meu calmante, o meu amor, a minha mais doce ilusão, tudo no plano virtual.
Porque fui ver seus olhos e mergulhar em você através deles? Seus olhos falam tanto, baby!
 Acho-a uma das figuras mais interessantes da minha vida, sem nunca tê-la visto. Tem um livro, que nunca lí, intitulado “Nunca te vi, sempre te amei”, algo assim.
Nas minhas paixonites, gostei de uma garota casada, lá na Graça, era uma “Cendom” linda. Tivemos flertes, apenas isso. Comprei este livro e mandei, com dedicatória, pra ela. E ponto final.
Já me perdi de amores, com uma mulher das estrelas, igualmente casada, ao ponto de bater na porta da casa dela, disposto a brigar e toma-la do marido, só pra mim, na maior loucura e cara de pau. Ela foi quem me fez cair na real. Ela queria ser amante e eu era um cara casado, com filhos. O marido dela não estava em casa e se estivesse eu poderia não estar mais aqui.
Cometer estas e outras loucuras não dá mais pra mim. Como, também, devo compreender que muitos dos meus sonhos e fantasias eu tenho apenas que guardá-los bem guardados e passar a viver a realidade, principalmente a minha realidade, focando-me em mim mesmo.
Bem, tigresa (gata é muito pouco pra você), cai na real ao amanhecer do dia. Você é realmente fantástica, mais do que estava prevendo nos últimos dias. Uma menina com poderes mágicos... Siga o seu caminho e não mais irei lhe incomodar.
Aceite um beijo meu em seu lindo coração e continue sendo o que é. Aproveite que os anjos, que lhe guardam, querem ver você no merecido lugar.
Com o amor virtual, que transbordou loucuras, e assim, neste estado, foi feliz, deixo-lhe uma desmedida admiração, enquanto sigo sublimando aquilo que já é sublime, por excelência, o amor!
Sinceramente,
L.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...