domingo, 10 de julho de 2011

Bertrand Russell, in "A Free Man's Worship"

A Grande Renúncia
Cedo ou tarde, a todo o homem chega a grande renúncia. Para o jovem não existe nada inalcançável. Que algo bom e desejado com toda a força de uma vontade apaixonada seja impossível, não lhe parece crível. Mas, ou por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las. É parte da coragem, quando a adversidade vem, suportá-la sem lamentar a derrocada das nossas esperanças, afastando os nossos pensamentos de vãos arrependimentos. 
Esse grau de submissão (...) não é somente justo e correcto: ele é o portal da sabedoria. 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Dor da Perda



A DOR DA PERDA


Maria Helena Pereira Franco 


´A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe.´

Allá Bozarth-Campbell



"Às vezes, quando sentimos a falta de alguém, parece que o mundo inteiro está vazio de gente."

Lamartine

Primeiramente, quero abordar alguns mitos sobre o luto, que dificultam uma compreensão clara a respeito dessa experiência tão humana e universal.

. Luto e pesar são uma mesma experiência.
A vivência da perda e do luto progride de acordo com fases previsíveis e seqüenciadas.

Devemos sair do luto, em lugar de encará-lo.

A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível.

A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza

Luto e pesar são a mesma experiência?
Há diferenças fundamentais entre as duas experiências e entender essa diferença é fundamental.

Pesar : é um complexo de pensamentos e sentimentos sobre a perda, que são vivenciados internamente. Em outras palavras, é o significado interno dado à experiência do luto.

Luto: é o pesar tornado público, quando você se apodera desses sentimentos e pensamentos e os expressa e compartilha com os que o cercam. Chorar, falar sobre a pessoa que morreu ou celebrar datas especiais são apenas alguns exemplos. Mesmo que esta expressão se dê sem a presença de outras pessoas, também pode ser entendida como uma forma saudável de luto.

Há uma seqüência previsível de fases na vivência do pesar e do luto?
Não é possível falar com precisão sobre essa seqüência, embora exista a necessidade de compreender o processo e, por que não dizer? - tentar controlá-lo. A noção de fases pode até mesmo ajudar as pessoas a encontrar sentido para sua experiência de luto, mas não é possível substituir o medo e a sensação de falta de sentido, naturais em uma experiência de luto, pelas falsas certezas de que as pessoas viveriam essa experiência seguindo pelas mesmas fases.

O conceito de fases foi popularizado com a primeira publicação, em 1969, do livro ´Sobre a Morte e o Morrer´, de Elizabeth Kubler-Ross, sem dúvida um marco na literatura sobre o assunto. No entanto, ela jamais desejou que as pessoas passassem a interpretar literalmente sua descrição de fases do morrer, como foi feito, com conseqüências desastrosas para a compreensão do processo.

A pessoa enlutada com freqüência encontra outras, na mesma situação, que adotaram um sistema de crenças rígido sobre o que deve ser experimentado nessa jornada ao longo do luto. Essas crenças podem afetar profundamente o processo individual natural. Podemos encontrar respostas de desorganização, medo, culpa, mas também podemos não encontrá-las. Ou a regressão pode ou não acontecer ou se sobrepor a qualquer outra das respostas. As emoções podem seguir-se umas às outras com intervalos curtos ou até mesmo duas ou mais emoções podem estar presentes ao mesmo tempo.

Cada pessoa fica enlutada de sua maneira, não existindo, portanto, maneiras melhores ou piores, nem a imposição de uma seqüência rígida, que normatiza o processo. O luto é uma experiência pessoal e única, para cada pessoa.

Devemos evitar o luto, em lugar de enfrentá-lo?
Talvez como resultado dos valores prevalentes na sociedade ocidental moderna, as pessoas enlutadas são encorajadas pela sua comunidade a prematuramente deixar para trás a experiência do luto. Como resultado, temos duas situações: ou o enlutado vive seu processo isoladamente ou força-se a abandona-lo, antes de te-lo completado. Amigos e familiares, bem-intencionados mas desinformados, tentam fazer com que o enlutado desenvolva auto-controle, entendendo que essa é a resposta adequada, tornando muito difícil para o enlutado enfrentar essa mensagem poderosa, que encoraja a repressão emocional.

Com freqüência, as pessoas me perguntam quanto tempo dura o luto. Entendo que esta é uma pergunta diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Um exemplo disso é a pressão que o enlutado sofre, logo após a perda, para voltar à atividade normal. Aqueles que permanecem expressando tristeza por um tempo prolongado são considerados fracos, loucos. A mensagem sutil é ´seja forte, não se deixe abater´. Ou seja: o luto passa a ser visto como alguma coisa a ser evitada e não, que precisa ser vivida. E o enlutado passa a apresentar um comportamento socialmente aceitável, que, porém, contraria sua necessidade psicológica. Mascarar ou fugir do luto causa ansiedade, confusão e depressão. Se a pessoa enlutada receber pouco ou nenhum reconhecimento social para sua dor, poderá temer que seus pensamentos e sentimentos sejam anormais, o que nem sempre ocorre.

A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível? 
O enlutado pode ouvir alguém lhe perguntar: Você já superou sua dor? Ou, o que é pior: ´Já está na hora de você sair dessa.´ Em termos clínicos, a dimensão final do pesar é com freqüência entendida como resolução, recuperação, restabelecimento ou reorganização. Por que não pensar em reconciliação? Esta palavra pode ter um significado mais apropriado acerca do processo vivido. Não significa passar pelo luto, significa crescer por meio dele. Reconciliação é mais expressiva daquilo que ocorre, à medida que o enlutado integra essa nova realidade de se mover ao longo da vida sem a presença física da pessoa que morreu.

A reconciliação permitirá que o enlutado tenha um senso de confiança e energia renovado, uma habilidade para reconhecer totalmente a realidade da morte, e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O mais importante: o enlutado poderá reconhecer que, embora difícil, a dor e o pesar são partes necessárias do viver. À medida que for ocorrendo a reconciliação, o enlutado poderá se dar conta que a vida será diferente sem a presença da pessoa que morreu. Mas para isso será necessário perceber que a reconciliação é um processo, não um evento. Além da compreensão intelectual, existe a compreensão emocional e espiritual. Ou seja: além de entender na mente, vai entender no coração: a pessoa amada morreu. A dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda, para se transformar em um sentimento de perda que pode ser reconhecido e dá vez a um significado e um propósito renovados. O sentimento de perda não desaparece completamente, ele é atenuadoe as crises de pesar, antes intensas, tornam-se menos freqüentes e mais suaves. À medida que o enlutado começa a fazer novos envolvimentos, emerge a esperança de continuar a viver. É possível perceber que, embora a pessoa que morreu jamais virá a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. Não se trata de ´superar´ o pesar. Quando o enlutado começa a mergulhar no trabalho do luto, ele irá se reconciliar com ele.

A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza? 
Muitas vezes, as lágrimas devidas a uma perda são associadas a fraqueza e inadequação pessoal. O pior que o enlutado pode fazer é permitir que este julgamento o impeça de se expressar dessa maneira. Enquanto suas lágrimas podem ocasionar um sentimento de impotência nos amigos, família e cuidadores, é preciso que ele cuide para não se deixar inibir por eles. É possível que a pessoa que está preocupada com o enlutado tente, mesmo que de maneira sutil, por desejo de protegê-lo, evitar que ele chore, para protege-lo e a si mesma, da dor da perda. Ouvem-se frases como: ´As lágrimas não o trarão de volta´ ou ´Ele não gostaria de vê-lo chorar´ . No entanto, chorar é uma maneira natural de aliviar a tensão interna e permite que seja comunicada a necessidade de ser confortado.

Mesmo com dados ainda limitados, há evidências de pesquisa que apontam que a supressão das lágrimas aumenta a suscetibilidade a distúrbios relacionados ao stress.

Por que cada perda é única?
O que há de muito especial nos seres humanos? Cada um é único, não há dois iguais e isso se reflete nos vínculos que estabelecemos, bem como nas condições da dor pela perda daqueles que amamos.

Há alguns fatores que contribuem para a compreensão dessa experiência incomparável que é o luto.

Fator 1) A natureza da relação com a pessoa que morreu
Fator 2) Circunstâncias da morte
Fator 3) Circunstâncias do sistema de apoio do enlutado
Fator 4) A personalidade - incomparável - do enlutado
Fator 5) A personalidade - incomparável - da pessoa que morreu
Fator 6) O contexto cultural do enlutado
Fator 7) O contexto religioso e espiritual do enlutado
Fator 8) Outras crises ou situações de stress na vida do enlutado
Fator 9) Questões de gênero
Fator 10) A experiência com os rituais de luto

Quando falo na dor da perda, assim entendida, preciso citar aqui um poeta brasileiro contemporâneo, que todos vocês conhecem, Caetano Veloso, que disse:

´Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.´

Rua Conde de Bonfim, 370, sala 810
CEP: 20520-054
Telef: (21)7257-4455

As cinco etapas do Luto


Luto

O luto é uma forma de viver a morte em vida, de constatar o limite humano. No luto, a morte torna-se presente e real, partilhamos com outros o fim de um semelhante e toda a emoção que o fato desperta no humano. Mas partilhamos, também, a realidade da vida com outros, estabelecemos vínculos que possibilitam o conhecimento entre as pessoas. A psicologia tem buscado diferenciar o chamado luto normal do luto patológico, doentio. As diferenças entre eles têm sido muito, freqüentemente, motivo de discussões. Muitos autores têm dificuldade em discriminar o momento que poderíamos considerar patológica a depressão causada por uma perda. 

O luto é um processo contínuo, com cada pessoa vivenciando-o de uma forma forma diferente. Dividir o luto em 5 "fases" ajuda a pessoa enlutada a entender que as seus sentimentos são normais. Algumas pessoas passam rápido por todas as fases, enquanto outras parecem ficar "presas" numa fase específica. Resumindo, as fases do luto são as seguintes:

1- CHOQUE E NEGAÇÃO- A realidade da morte ainda não foi aceite. Ele ou ela se sente atordoado e atônito - como se tudo aquilo fosse irreal. "Não pode ser.Deve haver algum engano..."

2- RAIVA e CULPA- A pessoa enlutada frequentemente se volta contra a família, amigos, elas mesmas, Deus, ou o mundo em geral. Vão aparecer também sentimentos de culpa ou medo nesse estágio. 

3-BARGANHA- Nessa fase a pessoa pede por um trato ou uma recompensa de Deus,do padre. Comentários do tipo "Eu vou à Igreja todo dia se ele voltar para mim" são comuns. Algumas religiões até formalizam estas relações na forma de “promessas”

4- DEPRESSÃO e TRISTEZA- A depressão ocorre como uma reação à mudança do modo de vida ocasionada pela perda. A pessoa enlutada se sente extremamente triste, desesperançada, inútil e cansada. 

5- ACEITAÇÃO- A aceitação acontece quando as mudanças que a perda trouxe para a pessoa se estabilizam em um novo estilo de vida. A intensidade e a duração do processo de luto dependem de vários fatores

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Lobão, Julio Barroso, Taciana Barros


Não Quero o Seu Perdão


A gente nasce,

A gente cresce

A gente vive,

A gente morre

O tempo todo, o tempo todo

Perto dela,

Da solidão

E é tão bonito

Essa razão tão sem razão

A gente leva a vida inteira para entender a vida

Dia após dia, sem imaginar

Se recusando a acreditar

Que pra estar no paraíso

Basta amar, basta amar

E me dá vontade de cantar uma canção

Tão suave

Que os céus

Possam se abrir sem nuvens nem rastro

E que todas as mentiras pra derrotar

Se transformem em pequenas incertezas

Brilhando no seu olhar

Não me faça pensar que vai ser tudo igual

Pois você sabe muito mais do que ninguém

Que eu fui o melhor, que eu fui o pior, e é isso aí

E se eu tenho o seu amor, pra que pedir

E se eu tenho o seu amor, pra que pedir

Não quero o seu perdão

Pois a noite é uma princesa caída por mim

No lago do peito secreta solidão

Eu me lembro de lugares, de pessoas que eu freqüentei,

Cenas que eu vivi, filmes que eu já filmei

Minha única escolha é ser sincero

Eu canto donas de castelos

Mas não sou lobo louco não

Eu brinco de polichinelo com o bobo coração

Mil e um palácios de areia, noites de sereia

Eu ouço o som de uma nota só

Despedaçado entre a tempestade, a vontade e os sonhos

Nos subúrbios da alma

Eu sou marinheiro que navega com a lua

A paisagem é o meu desejo

Eu preciso do outono, eu preciso de um beijo

Eu preciso me desfazer

De todas as certezas e te cuidar

Sem impor nenhuma condição

Nao quero o seu perdao

Porque eu só quero o mar, meu mar

Meu mar,

Minha lua

E essa lua

É amar

Só você
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