domingo, 23 de maio de 2010

Modernidade de Antigamente

Nada Mudou


Faz alguns anos que tenho vivido muito o mundo virtual e me descuidado do mundo real. 

A televisão tá um saco. De um lado evangelizadores e do outro novelas e BBBs.

Preciso sair. Ir ao cinema, ao teatro, a um show que seja do meu agrado. 

Era bom sair por aí, ver vitrines de lojas nas ruas da cidade,apreciar as mercadorias disponibilizadas pelos camelôs, experimentar uma roupa, ou um sapato, tomar um sorvete na Ribeira, ou na cubana, entrar em uma das muitas igrejas que conheço e naquelas que ainda preciso conhecer.


Os cinemas de bairro morreram, restam as caixas de fósforos dos shoppings. 

A rua perdeu o glamour. A Chile era a passarela da moda, um ponto de convergência social, hoje está quase sem vida.

O comércio não é mais o mesmo e tem um monte de prédios largados. As ruas estão imundas. A sujeira é uma só e a sensação é de abandono. 

O porto insiste em permanecer em local errado e não temos uma via litorânea que interligue Itapagipe à Itapuã. O trânsito não é pensado no futuro. Somos uma cidade sem planejamento urbano. Não por falta de urbanistas, mas por falta de vontade política.

Querem uma ponte para Itaparica e o trânsito em Salvador é tão caótico, quanto "insoluvel". 

Há solução pra tudo e a ligeireza de uma ponte pouco debatida não me parece uma prioridade. Esqueceram o metrô ? 

É verdade que a Ilha vem sendo devastada e que não vejo mais aquele tapete verde que revestia seu belo relevo. É o preço do progresso? 

A fúria gananciosa do poder ecônomico andou degradando a sagrada ilha de Itaparica, tão rica em história e estórias. 

A Ilha está ficando careca pelo acentuado desmatamento. Mas isso não justifica a construção de uma ponte, só intensificaria os problemas existentes. 

Seria muito mais uma "ponte pra inglês ver" do que uma obra necessária. 

Lembra o tempo da megalomania que tomou conta do Brasil, nos anos 70. 

Depois, esta ponte nos remete a um filme antigo que interligava uma ponte que só servia para comunicar governantes, com empreendedores donos do poder econômico, ambos com interesses inconfessáveis, salvo o argumento de que a querem o progresso. 

Mas o progresso de quem ? Esse filme já passou, ou não?

Existem outras alternativas recomendáveis?

Se for passear pela cidade verei coisas belas, lindas garotas, em planos e sentidos, mas não deixarei de verificar os contrastes e contradições nela existentes. 

Passear de carro pela Av. Gal Costa nos conduz a uma outra cidade - que não deixa de ser bonita - favelizada. 

Um amontoado de casas, com becos estreitíssimos, escadas, ladeiras sinuosas, como se fosse um cortiço em mega escala. 

Ali o Estado vive ausente e as leis que imperam são as leis da selva, como se os espiritos dos índios (trucidados) e dos escravos (supliciados) ali se encontrassem em busca de uma vingança ignóbil; 

Mas vendo aquele mundo à parte, enquanto observo a outra cidade, verifico quantos erros cometemos em nosso silencio, de quase conivência, com o "deixa estar" legado pelos governantes e legisladores desta cidade. 

Mudaram-se os tempos e a tecnologia, mas o pensamento do "deixa-estar-pra-ver-como-é-que-fica", ou pra ver se "cola"... Algo do tipo: "se viu tô brincando, se não viu, tô levando. A mentalidade é tão moderna e nobre quanto àquelas de antigamente. 

Reclamamos de tudo. Nos queixamos da violência urbana. Nunca procuramos humanizarmo-nos, quanto mais humanizarmos o que precisa ser;  

Não precisamos de máquinas, mas de humanidade, como diria Chaplin em seu Último Discurso, de O Grande Ditador. 

Não pretendo ser líder de nada, mas devo permanecer atento e cobrar satisfação das autoridades públicas.

Não peço favor nenhum! Só espero que não me tragam o espírito do David Nivem, pra inaugurar a nova e moderna Ponte do Rio Kwai (THE BRIDGE ON THE KWAI RIVER). Nem façam disso um novo filme tipo UMA PONTE LONGE DEMAIS, com tantas estrelas brilhantes.  

Pra que eu quero uma ponte se aqui temos tantos e tantos problemas para serem resolvidos?

Depois não me venham falar mais em pedágios para transitarmos pelo que deve ser um bem público. 

Basta o solo que nos retiram durante a folia momesca, com a privatização do solo, pelos blocos de corda.

Eu não sou otário, nem milho pra virar pipoca, comprimido entre as cordas e paredes, ou correndo na rabada dos blocos. 

Povo feliz, que pula que nem milho quando vira pipoca e nem se toca com o que estão fazendo com ele, tão acostumado a ser barrado nos bailes da vida, por falta do "real".

Triste Bahia ! Volto ao mundo virtual. 


Entre o céu e o inferno, fico resmungando no purgatório..


Agora chore !
SPH / LLF

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